Bio Kairós

A Quinta de São Gonçalo, onde estão instalados os Serviços de Desenvolvimento Agrário de São Miguel, do Governo dos Açores é o epicentro da Bio Kairós, “micro-empresa de inserção em modo de produção biológico”. A explicação é dada por Raquel Vargas, Directora Executiva desta micro-empresa constituída em 2017 e integrada na cooperativa Kairós, a sua “casa-mãe”. Em Setembro de 2020, passaram a ter mais 7,8 hectares de terreno, desta vez, no concelho de Lagoa, face às necessidade sociais, mas também da crescente procura por alimentos biológicos.

“A Bio Kairós conjuga as componentes económica, social e de inclusão”, ou seja, “integra pessoas que, em algum momento da sua vida, as coisas não correram tão bem”. Deste modo, é-lhes dada a oportunidade de expressarem as suas competências ou de adquirirem competências no âmbito da produção agrícola em modo biológico. “Todos os produtos vendidos são para pagar as despesas e pagar os salários aos funcionários”, no sentido de fomentar a sua autonomia financeira e, consequentemente, “melhorar a sua qualidade de vida”, sublinha Raquel Vargas, que tem, como braço direito, Sofia Medeiros, Técnica Superior responsável pela produção.

A produção abrange uma enorme diversidade de produtos hortícolas – batata doce, batata inglesa, entre outros –, árvores de fruto e de fruta exótica – goiaba, araçá, abacateiro, por exemplo –, além das mais de duas dezenas de variedades de ervas aromáticas e flores comestíveis. Os testes são iniciados na Quinta de São Gonçalo, uma espécie de incubadora de ensaios, onde a produção é testada. Mediante os resultados obtidos, a matéria-prima passa a ser produzida na propriedade de 7,8 hectares, no concelho de Lagoa, para incrementar a produção e contribuir simultaneamente para a diversidade. “Começamos devagarinho. Agora estamos na fase da expansão”, acrescenta Raquel Vargas. Para o efeito, está traçado o objectivo de implementar quatro tri-tunéis – “três tunéis, que, juntos, formam um tri-túnel, tendo, cada um, 18 metros de largura e 22 de comprimento”, esclarece – e um reservatório de águas pluviais.

Paralelamente à inclusão social a que a Bio Kairós se compromete, a aposta na produção em modo biológico acrescenta valor aos alimentos, seja no sabor, seja na durabilidade. Mais ainda, “é dar às pessoas o que a nossa terra nos pode dar”, adianta a nossa entrevistada, enaltecendo o potencial do clima e dos solos do Arquipélago dos Açores.

Todas as semanas, é elaborada a lista dos produtos da época e enviada aos clientes. A selecção possibilita a realização de cabazes personalizados acompanhados por um cabaz surpresa. “Se houve algo que não agrade neste cabaz, também substituímos. Os cabazes são deixados num carrinho que temos no nosso espaço” – na Quinta da São Gonçalo –, “para as pessoas virem cá buscar”. O pagamento feito por transferência bancária.

“Antes da pandemia, as pessoas iam à horta, para escolherem os seus produtos no momento. Até mesmo os pais das crianças, que aqui têm actividades, aproveitavam para vir à horta. Agora, já não acontece tanto isso”, conta Raquel Vargas. No entanto, a quem não conhece o espaço nem o projecto, as portas estão abertas, para uma visita guiada. 

O retorno dado por parte da comunidade é, por sua vez, bastante positivo. “Temos tido um excelente feedback da comunidade e dos chefs, que nos têm dado apoio na Bio Kairós”. O agradecimento estende-se a Avelino Ormonde, da BioFontinhas, e a Mónica Oliveira, Presidente da Cooperativa Bio Azórica, ambos na Ilha Terceira. “Estas pessoas estão sempre connosco!”

Para Dezembro de 2021, está prevista a abertura de uma pequena loja, na cidade de Ponta Delgada, onde serão vendidos os produtos biológicos da Bio Kairós, bem como os hortícolas, a fruta e ervas aromáticas biológicos de outros produtores da Ilha de São Miguel.