Açores
Mar. Lagoas. Vulcões. 9 ilhas.
O enorme Atlântico circunda as nove ilhas do arquipélago açoriano, composto por 1766 vulcões. A sua água salgada é o habitat natural de centenas de espécies marinhas, entre outros, que, aqui, traçam a sua rota de migração, com destaque para os mais de uma vintena de cetáceos. Este gigantes seres, que se deixam embalar pelas enormes ondas, convertem, os Açores, num dos maiores santuários de baleias do mundo e tem na Horta, cidade principal da Ilha do Faial, um dos principais centro de observação e estudo de cetáceos da nível mundial. Eis uma ínfima parte da biodiversidade marinha, onde cabe a flora, valioso património com a mesma grandeza no que à preservação diz respeito.
Em terra, são de salientar as notáveis características geológicas dispersas pelas nove ilhas repletas de paisagens luxuriantes, dominadas pelos copiosos verdes existentes à face da terra e pelos relevos serpenteantes, que nos transportam à calma, muitas vezes, ansiada. Ao todo, estão contabilizados 121 geossítios, especificidade que justifica a designação de Geoparque dos Açores, atribuída a este arquipélago, ou não fosse a natureza privilégio maior, contemplado e revigorante nos mais de 60 percursos pedestres, que permitem conhecer, de perto, a fauna e a flora, riqueza singular dos Açores.
A começar pela Ilha de Santa Maria, a mais oridental das nove e a primeira a ser descoberta pelos navegadores portugueses. De clima mais quente e seco, comparativamente com as demais ilhas dos Açores, é predominada por solos argilosos, que dão origem aos chamados barreiros, por causa da sua cor avermelhada e em tons laranja. O mais conhecido é o Barreiro da Faneca, igualmente conhecido por Deserto Vermelho, também devido ao seu aspecto árido. É precisamente esta composição geológica a maior aliada da agricultura. A Meloa de Santa Maria, produto com Indicação Geográfica Protegida, é a prova de que os terrenos deste pedaço de terra insular são férteis. Carlos Monteiro é um dos produtores que comprova este sucesso, assim como José Moura, que também aposta na cultura do nabo de Santa Maria, tubérculo utilizado no tradicional caldo de nabos, feito com partes do porco, além dos enchidos, bem como com couve.
A próxima paragem é feita na vizinha Ilha de São Miguel. Constituída por dois maciços vulcânicos e uma cordilheira central, a “Ilha Verde”, como é conhecida, denota a sua beleza paisagística. A obra-prima da natureza estende-se pela ilha, com as suas nove lagoas. Note-se a Lagoa das Sete Cidades, composta por duas extensões de água – uma azul e outra verde – é um dos seus cartões de visita, ou a Lagoa do Fogo, rodeadas pelas tonalidades do verde, como se de pinturas se tratassem. Some-se a Ponta da Ferraria, onde o mar, aquecido pelas águas vulcânicas, assume-se como verdadeiras termas a céu aberto, a juntar à Poça da Dona Beija, outro paraíso na terra, graças às suas águas quentes de alto teor férreo, e ao Parque Terra Nostra, o enorme jardim do século XVIII, convertido num acervo botânico ímpar. Firmada na natureza, a Lagoa das Furnas é outro do locais mais emblemáticos da Ilha de São Miguel, seja pela paisagem, sejam pelo célebre cozido das furnas, prato típico da Ilha de São Miguel.
Por falar em gastronomia, retomemos esta viagem pela açafroa, de Fernando Alberto Vieira Lopes, cultivada em Lagoa, município onde Nuno Teixeira afirma o seu negócio na produção de ovos de qualidade. Adicione-se duas mãos cheias de legumes, vegetais e ervas aromáticas da Bio Kairós, na Fajã de Baixo, no concelho de Ponta Delgada – a principal cidade da “Ilha Verde” e do arquipélago dos Açores –, e da Quinta dos Sabores, de Paulo Beck e Inês Sá da Bandeira, em Rabo de Peixe, na Ribeira Grande. Termine-se com o Ananás do Paço, produzido pela Sociedade Agrícola do Paço de Nossa Senhora da Vida, em Vila Franca do Campo, representada por Gonçalo Vaz Botelho, e os chás da Gorreana, na Maia, freguesia da Ribeira Grande.
Mar adentro, chega-se à Ilha Terceira. Aqui está Angra do Heroísmo, cuja data de fundação remonta a 1534 e classificada, em 1983, de Património Mundial pela UNESCO, mantém a arquitectura de tempos idos, sobretudo no seu centro histórico. Da história, é de enaltecer a cultura da vinha, contada no Museu do Vinho, em Biscoitos, freguesia do município da Praia da Vitória, que tem, na casta branca Verdelho, o seu simbolismo maior. No mesmo concelho está a Biofontinhas, projecto de Avelino Ormonde, que cultiva uma enorme variedade de legumes, vegetais e ervas aromáticas, numa lógica centrada na biodinâmica e na permacultura, por respeito ao Homem e à natureza. Antes de sair da ilha, há que provar a receita tradicional: alcatra à moda da Terceira.
Mar adentro, eis a Ilha de São Jorge ou “Ilha das Fajãs”, devido às mais de quatro dezenas de fajãs – pequenas planícies situadas junto ao oceano Atlântico, originadas por desabamentos de terra caídos das encostas. A Fajã da Caldeira de Santo Cristo, localizada a Este, é uma das mais conhecidas, sobretudo pelas suas amêijoas, ou a Fajã dos Vimes, localizada na encosta sul da ilha, graças à cultura do café. Neste pequeno pedaço de terra estão os cafeeiros do casal Alzira e Manuel Nunes, proprietários do Café Nunes, bem como de Paula e Francisco Azevedo, donos da Quinta do Café, dois lugares onde tão apreciada bebida é feitas a partir dos grãos colhidos pelas respectivas famílias.
A Fajã dos Cubres, com a sua lagoa de águas cristalinas, e as piscinas naturais da Fajã dos Ouvidores, constituem dois desvios, que valem a pena, sobretudo para quem tanto aprecia a natureza.
Antes de se sentar à mesa, para degustar o queijo produzido na Ilha de São Jorge, conheça Emanuel Fontes, proprietário da Fontes Farm, e a dupla de irmãos Vera e Augusto Ávila, produtores de leite de vaca.
A vizinha Ilha do Pico tem na sua montanha homónima, com 2.351 metros de altitude, o ponto mais alto de Portugal. Os solos de lava estendem-se por esta ilha, onde os currais constituem a Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico e a sua preservação determinou a classificação de Património da Humanidade, em 2004, pela UNESCO. Aquele nome advém dos recintos rectangulares divididos por muros feitos a partir de pedras negras, construídos com o objectivo de proteger as videiras dos ventos e das maresias. A variedade de uva Verdelho também assume, aqui, um papel importante para os viticultores e produtores de vinho desta ilha, representados no Museu do Vinho, espaço público instalado no antigo Convento das Carmelitas, no concelho de Madalena, ou não fosse produzido, nesta ilha, vinho de Denominação de Origem Protegida Pico.
À mesa, é de esperar os caldos de peixe, as caldeiradas e o polvo guisado com vinho de cheiro. Da terra, há a molha de carne, sem se olvidar do Queijo da Ilha do Pico, produzido com leite de vaca.
Ainda no Grupo Central do arquipélago dos Açores, a visita estende-se à Reserva Mundial da Biosfera. Conhecida como “Ilha Branca”, o seu nome é outrossim atribuído ao vinho de Denominação de Origem Protegida, ou não fosse, nos séculos XVIIIe XIX, um dos palcos da cultura da vinha e do vinho.
Outrora profusa na produção de cereais, Graciosa preserva, ainda hoje, à beira-mar, moinhos de vento de então, inspirados nos seus congéneres holandeses. Acrescem reservatórios e sistemas de abastecimento de água potável, que formam uma rede, erigida há séculos, naquela ilha.
Já no Grupo Ocidental, a viagem prossegue até à Ilha das Flores. Com as suas paisagens bucólicas e de encostas escarpadas, é composta por apenas dois concelhos: Santa Cruz e Lajes. Pela ilha, encontram-se cascatas, lagoas e ribeiras, a par com o verde dos campos de terra fértil, factor preponderante para a Bebio, projecto implementado pela dupla Pedro e Manuela Ponte. Pelos montes e montanhas, que proliferam até onde este pequeno pedaço de terra acaba, são avistadas as vacas, cujo leite é utilizado na feitura de queijos. Fresco, amanteigado e curado são as variedades de queijos feitos a partir de leite de vaca, na Queijaria de Val da Fazenda, em Fazenda de Santa Cruz, pelas mãos de Ana Paula Silva. Na Laje das Flores, está a Queijaria da Fajãzinha, onde Ilda Henriques, dá a forma aos seus queijos fresco e curado, produzidos da mesma forma.
Por fim, o Corvo, Reserva Mundial da Biosfera, onde proliferam as aves marinhas e os cetáceos, e a mais pequena ilha das nove, que compõem o arquipélago dos Açores. A visita estende-se a Altos dos Moinhos, terra dos pequenos moinhos de vento implantados à beira-mar, e a Vila Nova do Corvo. Aqui, o casario de pedra negra e as ruas estreitas dão forma à tipicidade da arquitectura local, acrescentando-se as tradicionais fechaduras, feitas em madeira, instaladas nas portas das habitações. Do mar, os peixes e os mariscos tomam conta da gastronomia deste pedaço de terra insular, sendo, da mesma forma, protagonistas do receituário das nove ilhas deste arquipélago localizado em pleno Oceano Atlântico, agraciado pelo mais genuíno que há na natureza, que nos transporta para o cenário mais idílico que há no mundo.