Beira Interior

Serra. Granito. Natureza. Biodiversidade.

Os enormes afloramentos graníticos dominam a paisagem inóspita e de incrível valor cénico, no cimo da Serra da Estrela. O maciço granítico, que, no Alto da Torre se eleva aos 1993 metros de altitude, é o ponto mais alto de Portugal Continental. Integrado no Parque Natural com o mesmo nome, eis a casa-mãe dos rios Mondego e Zêzere. A sua beleza e imponência avistam-se a partir de um dos mais emblemáticas lugares do país, o Covão da Ametade, localizado no Vale Glaciar do Zêzere, onde o rio homónimo começa a ganhar forma. 

Com as suas lagoas – Comprida e Salgadeiras –, a Serra da Estrela é o ponto de partida para conhecer a Beira Interior. Esta região, situada no Centro de Portugal, abrange os distritos raianos de Castelo Branco – a Sul, com Vila Velha de Ródão e o Rio Tejo – onde desagua o Zêzere – a delimitar a fronteira com Portalegre, no Alentejo – e Guarda – com Vila Nova de Foz Côa a demarcar, mais a Norte, a par com o Rio Douro, o termo da Beira Interior. Some-se o distrito de Viseu, que faz fronteira com os de Vila Real e Porto, a Norte, e a Sul, com o de Coimbra. Da sua narrativa história, enaltece-se a figura de Viriato, o guerreiro que se insurgiu contra os Romanos em nome da Lusitânia, e a profunda ligação com a religião cristã, comprovada pela arquitectura austera e, ao mesmo tempo, ímpar, em contraste com o roteiro de arte urbana, que incita a percorrer a cidade de Viseu, mas também – e já agora –, o centro histórico da Covilhã, no distrito de Castelo Branco.

Moldado pelas sucessivas paisagens serranas, este território é entrecortado por estradas serpenteantes, que nos levam a descobrir onze das 12 Aldeias Históricas de Portugal – Idanha-a-Velha, Castelo Novo. Monsanto e Belmonte, no distrito de Castelo Branco; Sortelha, Linhares, Castelo Mendo, Almeida, Trancoso, Castelo Rodrigo e Marialva, no distrito da Guarda. As singularidades do património arquitectónico estendem-se às Aldeias do Xisto. Das 24 assinaladas, onze pertencem a oito concelhos do distrito de Castelo Branco – Sarzedas e Martim Branco (Castelo Branco), Janeiro de Cima e Barroca (Fundão), Álvaro (Oleiros), Fajão, Janeiro de Baixo (Pampilhosa da Serra), Figueira (Proença-a-Nova), Pedrógão Pequeno (Sertã), Água Formosa (Vila de Rei) e Foz do Cobrão (Vila Velha de Ródão). A tradição gastronómica é tocante e determinada por um léxico quase desconhecido. Cabrito estunado, maranho, plangaio são disso exemplo e refelectem, simultaneamente, o respeito por um património preservado.

As particularidades desta região dividem-se em núcleos importantes, como a região vitivinícola do Dão, concentrada no distrito de Viseu, onde a cultura da vinha e do vinho está em constante crescendo. Ou o facto da Beira Interior ser o nome atribuído à comissão vitivinícola homónima. O cenário prossegue, com as amendoeiras a florescer na Primavera, os enchidos e os doces típicos, mais a Norte, e o Queijo da Beira Baixa DOP, a Sul. Pelo meio, está a Cova da Beira, com os concelhos de Belmonte, Covilhã e Fundão a presentearem, locais e visitantes, de azeite e cereja, entre uma imensidão de fruta, além do Queijo da Serra da Estrela, com o epicentro junto ao maciço montanhoso que lhe empresa o nome, monumento criado pela natureza está repartido pelos concelhos de Celorico da Beira, Gouveia, Guarda, Manteigas e Seia, do distrito da Guarda (na Beira Alta), e da Covilhã, este último integrado na área geográfica do distrito de Castelo Branco (na Beira Baixa). 

Falemos, ainda, do Parque Natural do Tejo Internacional, com mais de 26 mil hectares de área. Predominado pelos solos xistosos e cobertos pela natureza selvagem, este paraíso a céu aberto reúne a fauna e a flora num manto de biodiversidade ímpar. Adicione-se a Reserva Natural da Serra da Malcata, área protegida, que abrange os concelhos de Penamacor, vila pertencente ao distrito de Castelo Branco, e Sabugal, na Guarda.

Por respeito à biodiversidade e a bem da sustentabilidade do interior do país, João Valente, rosto da Monte Silveira Bio, na Herdade Monte da Silveira, em Malpica do Tejo, aposta na agricultura de precisão e na criação de animais, ou não fosse todos uma dádiva da natureza. Integrada no Geopark Naturtejo, a Nature Fields, centra-se na produção de carne biológica, um trabalho realizado a fundo por Arlindo Cardoso. Ambos estão em Idanha-a-Nova, terra do adufe, instrumento de percussão típico destas terras ancestrais, que incluem Idanha-a-Velha, com as suas formações graníticas, que se estendem e conferem uma beleza rara à aldeia de Monsanto.

As boas práticas ambientais também são asseguradas na Beira Alta, por Klaas Zwart e Francien Nijhof, casal de holandeses que, na vila de Tábua, estabeleceram o seu negócio focado na produção de cogumelos, bem como por Jorge Pena, que, e na freguesia de Póvoa de Midões, fundou a Yacon, afirmando-se na exploração de hortofrutícolas, na Quinta Vale de Camba. Enquanto isso, em Oliveira do Hospital, o holandês Perter Herman Raphael criou a Germisen, empresa com certificação biológica em ervas aromáticas, espargos, hortícolas e sementes.

Tudo é feito em nome do ambiente e dos recursos naturais, um exemplo a seguir e a reflectir, a favor do futuro.