Beira Litoral

Mar. Arte xávega. Ria. Serra. Aldeias do Xisto. 

Os extensos areais acompanham grande parte da costa da Beira Litoral. Banhados pelo Atlântico, as estâncias balneares desta região repartida pelos distritos de Aveiro e Coimbra, imperam na lista dos veraneantes mais intrépidos, ou não fossem as suas águas, maioritariamente, frias. O mesmo é dizê-lo em relação aos amantes de surf. Destemidos, arremessam-se nas gélidas ondas das praias da famosa Costa de Prata, sempre que o cenário está de feição. As praias da Barra, Costa Nova, Mira, Tocha, Quiaios, Figueira da Foz, São Pedro de Moel, Peniche, Nazaré e Supertubos são nomes invariáveis do léxico destes aventureiros.

Mas, iniciemos o itinerário numa viagem fugaz de comboio, com os olhos postos na Praia de Espinho, localizada a Norte do distrito de Aveiro, onde as suas casas “acolhem” a Arte Nova. Depois, a Costa Nova, com os seus palheiros predominados pelas coloridas, no concelho de Ílhavo, porto dos bacalhoeiros e epicentro da Algaplus, projecto desenvolvido em 2012, por Helena Abre e Rui Pereira, centrado no cultivo de algas autóctones do Atlântico e na maternidade destinada à erva-patinha. 

Desfrutemos da Reserva Natural das Dunas de São Jacinto, um verdadeiro santuário de fauna e de flora entre o Atlântico e a Ria de Aveiro. Esta comprida enseada atravessa a cidade que lhe empresta o nome, um museu a céu aberto, caracterizado também pela Arte Nova. Por aqui, o barco moliceiro convida a um passeio sereno pelas suas águas e as pastelarias preenchem as vitrines de doces de ovos, tripas de Aveiro, cartuchos, a que se juntam o pão-de-ló de Ovar, os pastéis de Águeda ou os turcos de Albergaria-a-Velha. Aproveitemos para espreitar a Vagoleite, a exploração de leite de Pedro Simão, situada no lugar de Lombomeão, em Vagos.

Mais a Sul, as praias de Mira e da Tocha, esta no concelho de Cantanhede, convergem com o passado da população costeira, também com os seus palheiros. Ponhamos um pé em Ançã, para conhecer o bolo de festas e casamentos do antigamente, ao qual foi atribuído o nome desta freguesia, paremos em Tentúgal, para saborear os pastéis e as queijadas com o mesmo nome, e exploremos Penacova, ali quase ao lado, para passear na barca serrana Mondego acima e comer as nevadas de Penacova. Mais além, com a Serra do Açor a servir de pano de fundo, eis a Aldeia Histórica do Piódão, no concelho de Arganil.

De volta ao mar. Palco aberto à arte xávega, mantém-se a tradição enaltecida pela mestria do manuseamento das redes, por parte das comunidades piscatórias de Aveiro e Coimbra. Por aqui, o peixe é matéria-prima diligenciada e a variedade impera no receituário da orla marítima desta região. A sopa de peixe, a caldeirada de enguias, as enguias fritas com molho de escabeche, a raia de pitau são alguns dos pratos que comprovam os intemporais compêndios da culinária regional. 

Viajemos até ao concelho da Mealhada, onde leitão assado é prato emblemático, para calcorrear a floresta frondosa da Serra do Buçaco e a sua mata nacional, e explorar as estâncias termais da Curia e do Luso, com as suas águas terapêuticas e a arquitectura erguida sob o traço da Belle Époque. Terminemos este percurso com o morgado do Bussaco e os amores da Curia, a dupla de doces criada durante a primeira metade do século XX. E eis o coração da Bairrada, terra da cultura da vinha e do vinho.

Sigamos até à Figueira da Foz, para falar com Jorge e Vítor Norinho, os representantes da Irmãos Norinho, cuja atividade incide na venda de enguias. Montemor-o-Velho, com o seu castelo,  é a próxima paragem. Conheçamos Vitor Martinho, o produtor do Arroz da Ereira, a pequena povoação ladeada de e os campos de arroz do Baixo Mondego, e Carlos Plácido, que, na sua Quinta do Matoutinho, em Santo Varão, se dedica à criação de gado bovino da raça Marinhoa.

Próxima paragem: Coimbra. A Lusa Atenas banhada pelo Rio Mondego, com a sua Porta de Barbacã e a Torre de Almedina. Classificada de Património Mundial da Humanidade, desde 2013, pela UNESCO, a Rua da Sofia, a Alta e a Universidade de Coimbra reúnem, entre si, mosteiros e conventos, que deram origem a duas mãos cheias de doces, como os pastéis da Santa Clara, as barrigas de freira, o manjar branco ou as cavacas altas de Coimbra. 

A quase vizinha Vila Nova de Poiares merece a visita, pela preservação do caçoilo de barro preto, onde se assa a chanfana feita de cabra velha. A mesma receita é mantida em Miranda do Corvo, concelho localizado a escassos quilómetros de Condeixa-a-Nova, município que tem no seu cabrito e na escarpiada a tradição à mesa. 

É chegado o momento de descobrir 13 das 24 Aldeias do Xisto, embelezadas pelas paisagens enigmáticas e as brumas das noites e das manhã, e de passear pela Lousã, com os seus trilhos, a sua fauna e flora, as suas praias fluviais e cascatas, e o mel de urze, tão comum por estas bandas. 

Regressemos à costa, para mais um mergulho e, quem sabe, retomar este roteiro com mais vagar.