Amêijoas da Fajã da Caldeira de Santo Cristo

Amêijoa

A Fajã da Caldeira de Santo Cristo é conhecida pelas suas amêijoas, muito apreciadas na Ilha de São Jorge. Porém, estes bivalves podem ser apanhados apenas por dois homens, num máximo de 50 quilos por mês. Objectivo? Preservar a espécie.

Caldeira de Santo Cristo
9850 Ribeira Seca
Ilha de São Jorge, Açores

+351 913 723 424 (José Borges)
+351 918 121 783 (Raul Azevedo)

caldeiraturistica@hotmail.com

Apresentado por
Ivan Dias, Realizador


Texto de Patricia Serrado
Fotografias de Clementine Things

A Fajã da Caldeira de Santo Cristo é conhecida pelas suas amêijoas, muito apreciadas na Ilha de São Jorge. Porém, estes bivalves podem ser apanhados apenas por dois homens, ao abrigo da licença atribuída pela Associação de Produtores da Amêijoa da Fajã das Caldeiras, num máximo de 50 quilos por mês. Objectivo? Preservar a espécie.

O início da praia-mar e da baixa-mar são os momentos ideias para apanhar a amêijoa Ruditapes decussatus, espécie protegida da Fajã da Caldeira de Santo Cristo. Classificada de Reserva Natural desde 1984, é uma espécie de santuário à beira do Oceano Atlântico. A gigantesca arriba empresta o encanto do verde, que preguiça até quase junto às águas doce e salgada que a tocam. 

“O fato de mergulho dá jeito na lagoa, no Inverno”, afirma José Borges, presidente da Associação de Produtores da Amêijoa da Fajã das Caldeiras, proprietário do restaurante O Borges, localizado nesta povoação açoriana, e que faz mergulho por apneia, para apanha este bivalve na enorme lagoa, que, apesar de formar uma barreira natural, tem uma abertura para o imenso mar. “Tenho licença desde 2003. A apanha é feita quando a maré está a encher ou a vazar, porque é quando o fundo está a ser limpo”, explica o restaurador. “Não é permitida nem por terra, nem por mar”, sublinha. “Depois, a amêijoa é pesada e calibrada, e segue caminho para a lota, onde é vendida. A minha fica praticamente toda para o restaurante.” A lição foi apreendida com o tempo: “fui vendo como era e, hoje, sei quando há e quando não há amêijoa.”

Apesar de continuar na apanha da amêijoa da Fajã da Caldeira de Santo Cristo, José Borges já passou o seu restaurante O Borges, para as mãos dos filhos Mónica e Marco Borges. Além de proprietários, ambos cozinham e as amêijoas perpetuam na lista dos pratos deste espaço. A escolha divide-se entre as amêijoas à Bulhão Pato e a receita tradicional, que tem piri-piri: “faz-se um refogado de cebola e o molho leva vinagre de vinho e piri-piri; põe-se um ramo de salsa no final e tapa-se, para cozer com o vapor.” As respectivas doses de cada ingrediente fica no segredo dos deuses.

O período de defeso vai de 15 de Maio a 15 de Agosto, “que é quando está a reproduzir-se”, continua Raul Azevedo, outro dos que detém a licença, desde há cerca de uma década, para estar apto a apanhar a amêijoa da Fajã da Caldeira de Santo Cristo. “A gente tem de preservar o que tem.”

“Mas ainda se tem de melhorar muita coisa. A apanha lúdica nunca foi regulamentada e tem de ser regulamentada, porque tem levado ao extermínio desta amêijoa”, adverte José Borges.