Ananás do Paço

Ananás dos Açores DOP

A família de Gonçalo Vaz Botelho produz ananás desde o século XIX. O mentor foi o seu tetravô José Bento Arruda Botelho, com a finalidade de usar o fruto apenas como peça decorativa e só mais tarde passou a fazer parte da refeição. Hoje, o Ananás do Paço é um produto Biológico de Denominação de Origem Protegida.

Sociedade Agrícola do Paço de Nossa Senhora da Vida
Ponta Garça, 4
9680-451 Vila Franca do Campo, Ilha de São Miguel
+351 918 975 104
gil.vieira@fundacaodosbotelhosnsv.org

A
presentado por
Tiago Santos, O Baco


Texto de Patrícia Serrado
Fotografias de Vânia Rodrigues

“O meu tetravô descobriu que, se queimasse lenha no interior das estufas, o fumo libertado, fazia que todas plantas eclodissem ao mesmo tempo.” A explicação é dada por Gonçalo Vaz Botelho, Presidente do Conselho de Administração da Fundação dos Botelhos de Nossa Senhora da Vida. Trata-se da mais antiga fundação familiar portuguesa, que é, também, uma Instituição Particular de Solidariedade Social, fundada em 1952, pelos seus avós e com reconhecimento de Pessoa Coletiva de Utilidade Pública, desde 1954, na qual está integrada a Sociedade Agrícola do Paço de Nossa Senhora da Vida, localizada em Vila Franca do Campo, São Miguel, Açores.

“As nossas primeiras estufas remontam à segunda metade do século XIX, como alternativa à cultura da laranja, dizimada por uma praga entre 1840 e 1860”, afirma Gonçalo Vaz Botelho. Em 2015, Gonçalo Vaz Botelho decide mandar reabilitar as 12 estufas construídas no inicio do século XX – as primeiras estufas de vidro do Paço de Nossa Senhora da Vida, junto à casa mais antiga dos Açores, datada de 1443 – e edificar seis novas estufas, com a finalidade de impulsionar a produção e ganhar escala. As estas, soma a montagem de quatro estufas de plástico, para dar início à atividade de viveirista. “Somos o único viveirista de plantio de ananás biológico certificado nos Açores”, acrescenta, além de que o produto que produz possui igualmente o certificado de Denominação de Origem Protegida (DOP). 

Mas como ocorre o processo de produção? Após a colheita dos ananazes, todas as suas folhas são retiradas. O rizoma fica de parte. “Tudo se aproveita.” É a partir deste rizoma que se reinicia o ciclo, para a produção de novas plantas – os chamados brolhos. A colocação dos rizomas é feita em linhas paralelas, nas estufas de plástico. Já cobertos de terra e lenha triturada, de modo a formar uma camada de matéria orgânica rica em nutrientes – daí a dispensa dos adubos químicos – e que proporciona simultaneamente o armazenamento de carbono no solo, as plantações são regadas em intervalos de uma ou duas semanas, com a água dos tanques de recuperação das águas pluviais e que estão próximos dos conjuntos de estufas. 

Após cinco a oito meses – dependendo da época do ano –, o “brolho” é transferido para as estufas de plantio de ananás, na fase da “planta disposta”, durante a qual permanece, em média, seis meses. Findo este tempo, “obtêm-se as plantas com peso e diâmetro do ‘colo’, a transferir para as estufas de vidro. Esta é a fase final e última para a obtenção dos desejados frutos DOP e Biológicos Ananás do Paço”.

“A exigência com o controlo de qualidade de toda a cadeia de valor na produção do ananás”, induz Gonçalo Vaz Botelho “a projectar uma agricultura de precisão nas estufas, através do controlo da temperatura, do pH do solo e da humidade; e, pela importância da comunicação com o consumidor, o site e a embalagem estão num processo de transformação”.

“Nas estufas de vidro tradicionais, algumas centenárias – condição obrigatória para obtenção da certificação DOP – a planta permanece, em média, entre 12 a 18 meses, dependendo principalmente da época do ano. Após, aproximadamente seis meses, esta estará, dependente do seu estado vegetativo, no estado ideal, sendo induzida a floração através do método tradicional de aplicação do fumo, com a colocação de latas, com criptoméria seca – uma árvore abundante na paisagem açoreana –, ao longo das estufas de vidro.” Esta aplicação tradicional é um dos requisitos obrigatórios das regras da DOP e é realizada, no mínimo, por nove dias sucessivos. Após, cerca de 24 meses, o ananás está pronto para ser colhido.

Este rigoroso processo, de colheita e controlo de qualidade – “porque a escolha da data ótima de colheita é o fator primordial para a garantia de produção de qualidade” – é feito planta a planta. 

O cultivo de ananás é, por conseguinte, uma cultura sustentável. Promove as boas práticas em relação ao meio ambiente, bem como a economia circular. Este modo de produção biológico, para além, de estar alinhado com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, antecipa-se àquelas que são as novas orientações do Pacto Ecológico Europeu e da nova Política Agrícola Comum.

“O ananás biológico é o mais pequeno”, afirma Gil Vieira, gerente da Sociedade Agricola do Paço de Nossa Senhora da Vida, que acompanha este procedimento há cerca de sete anos. O peso está registado entre os 900 gramas e os 1.300 quilos. “Este é o peso do ananás de primeira categoria.”

Por ano, o Ananás do Paço regista uma produção entre as 14 e as 15 toneladas e é vendido diretamente para a área da hotelaria e lojas da especialidade. 

Gonçalo Vaz Botelho enfatiza que se trata de “um produto de nicho”, direccionada “para consumidores conscientes, críticos de uma boa produção e preocupados com a sua responsabilidade ambiental e social”.