Chá Gorreana

Chá

Fundada em 1883, por Hemelinda Pacheco Gago da Câmara, a Fábrica de Chá da Gorreana é património histórico de uma família representada, hoje, pela sua quinta geração. Legado dotado de experiência, este negócio familiar alia a tradição e o saber à inovação, com boas novas a chegar em Janeiro de 2022.

Plantações de Chá Gorreana
9625-304 Maia, Ilha de São Miguel
Como chegar

+351 296 442 349
gorreanazores@gmail.com
www.gorreana.pt

facebook/@gorreanateas
Instagram/@cha.gorreana

Apresentado por
João Rodrigues, Feitoria


Texto de Patrícia Serrado
Fotografias de Vânia Rodrigues

“O ano de 2021 foi muito bom.” Quem o diz é Madalena Mota sobre os chás da Gorreana, cuja fábrica está situada em Gorreana, na freguesia da Maia, concelho da Ribeira Grande, na Ilha de são Miguel, Açores. “Já 2018 não foi tão bom, principalmente na segunda apanha”, revela. “É preciso muita água, humidade e nevoeiro.” 

Madalena Mota, a par com a irmã, Sara Mota, representa a quinta geração da família descendente de Hemelinda Pacheco Gago da Câmara, fundadora do Chá Gorreana, em 1883. Um ano antes, ali mandou plantar a Camellia sinensis, planta oriental, espalhada, actualmente, por mais de três dezenas de hectares. Um verdadeiro mar de folhas, traduzido na única plantação de chá na Europa, que dá origem ao chá preto e ao chá verde.

O chá preto é segmentado em três categorias, correspondentes à três fases da apanha das folhas. Orange Pekoe é o nome da primeira apanha, realizada entre final de Março e início de Maio, para captar as folhas mais novas, com o objectivo de se fazer uma bebida mais aromática. Pekoe, designação atribuída ao chá mais forte, feito a partir da folha da segunda apanha, ocorrida desde finais de Junho ao início de Julho. Broken Leaf, o mais leve e o menos exuberante dos chás, é feito a partir das folhas mais velhas e rijas, apanhadas entre Setembro e a primeira semana de Outubro, as quais servem para fazer blends. 

Apesar destes três momentos serem segmentados no calendário anual, “os nossos funcionários apanham, todos os dias, as folhas para o chá e regressam ao início de três em três semanas”, esclarece Madalena Mota. “Durante o resto do ano, é preciso limpar o chá, mondar, apanhar as ervas daninhas… E se não chover, pelo menos, uma vez por semana, é péssimo, apesar do orvalho ser o bastante para ‘alimentar’ o chá durante o Verão.” São 32 homens, ou não fosse esta tarefa uma actividade que necessitasse de muita mão-de-obra, sem contar com as seis pessoas que somam ao trabalho de campo realizado entre Abril e Outubro. “Além das nove mulheres e seis homens que trabalham na fábrica”, acrescenta.

Apanhadas as folhas, estas são encaminhadas para uma sala, no primeiro piso da fábrica, onde são colocadas em caixas, munidas, no fundo, com uma rede, para secar. Já secas, as folhas vão para os enroladores, máquinas, cujos movimentos rotativos extraem os seus sucos e, posteriormente, são dispostas na cave do mesmo edifício, para serem submetidas ao processo de oxidação. Por fim, há que aguardar entre seis a sete meses, até estar pronto para entrar no mercado.

As folhas do chá verde também são apanhadas em três fases diferenciadas e separadas de acordo com as designações atribuídas ao anterior – Orange, Pekoe e Broken Leaf. “A primeira folha é igual à do Orange, mas um pouco maior, e a segunda folha vai para o chá Hysson.” Quanto aos procedimentos dentro da fábrica, Madalena Mota explica que, à semelhança do chá preto, esta matéria-prima segue para o primeiro piso do edifício, mas, depois, são transportadas para uma máquina a vapor, “onde as folhas levam uma escaldadela. Depois vão para os enroladores e são colocados a secar. As que têm celulose, são expelidas. As outras vão ao crivo”.

Aos chás verdes tradicionais, a Gorreana adiciona nove variedades, em reposta às novas tendências, procuradas pelos mais jovens: ananás, ananás e canela de Ceilão, lúcia-lima, hibisco, salsa, anis, poejo e, por último, menta, limão, stevia e canela.

O portefolio da Gorreana é complementado pelos chás semifermentados, como o Oolong, o Poochong e o chá branco.

“A maior parte dos chás é exportado para a Alemanha, porque é muito comum os filhos gostarem dos mesmos chás que os pais gostam. Quando perguntaram ao meu pai sobre qual o melhor chá, o meu pai respondeu que era o da minha avó. Na altura não percebi, mas agora, com a experiência que fui adquirindo, compreendo-o: o chá é uma bebida de família, convida a sentar à mesa e ‘puxa’ pela conversa, ao contrário do café, que é tomado fora de casa, com os amigos.”

Em Janeiro de 2022, será apresentado uma nova variedade de chás, secos a 70 °C, procedimento realizado entre três a quatro vezes e só é colhido entre Março e Abril, e em Setembro.

Sobre a história do chá nos Açores, Madalena Mota relembra que a planta que origina esta bebida foi plantada na Gorreana no período de declínio da produção de laranja, em finais do século XIX, sustento financeiro e alimento de muitas famílias. “Os nossos agricultores e lavradores levavam as hastes para casa, punham um bocadinho de leite e muito açúcar, para beber a meio dia de trabalho. Era uma bebida energética. As mulheres, que tomavam conta dos filhos e trabalhavam em casa, bebiam, de manhã e à noite, uma taça de chá com açúcar.”