Começou nisto há quase 20 anos, antes era agricultor. Hoje não quer outra coisa, sente-se em casa naquele espaço. Não planta trigo, não precisa — os agricultores da região trazem o seu para moer e quando tem a mais vende já transformado em farinha.
Moinho de Santana
Santana, Madeira
+351 963 257 225
Apresentado por
Teresa Vivas, Mesa Cultura Gastronónica
Texto de Tiago Pais
Fotografias de Tiago Pais
Estamos perante um moleiro bem disposto. Apresenta-se como “Francisco da Gama, primo do Vasco”. Do célebre navegador? “Não, do meu primo Vasco.” A boa disposição continua dentro do pequeno cubículo que, visto de fora, ninguém diria ser um moinho de água . E na verdade não é um, são dois: um para trigo, outro para milho. As histórias e o sorriso saem-lhe com a mesma naturalidade com que vai mexendo nas mós para transformar a matéria-prima que ali lhe chega em farinha. O moinho, avisa logo à partida, nem sequer é propriedade dele, mas sim do irmão João Zé. No entanto, em Santana e arredores — terra em que muitos madeirenses afirmam que se faz o melhor pão da ilha — todos o reconhecem como a autoridade-mor na arte da moagem.
Começou nisto há quase 20 anos, antes era agricultor. Hoje não quer outra coisa, sente-se em casa naquele espaço. Não planta trigo, não precisa — os agricultores da região trazem o seu para moer e quando tem a mais vende já transformado em farinha. Em casa, também só usa da sua farinha. “Uma vez deixei acabar e comprei farinha de supermercado para fazer uns bolos de frigideira. Quando provei aquilo, nem consegui comer, tive de dar aos porcos”, conta entre sorrisos. Vende a farinha a 2€/kg. “Há quem diga que é caro, mas quem sabe que é bom paga e pronto.”
Não será caro sobretudo se o preço incluir conversa este moleiro-entertainer. Um dos seus números favoritos consiste em fazer um jogo com quem o visita pela primeira vez: aposta que, mesmo sem ver, consegue adivinhar quando é que a farinha pára de sair do peneiro, que está do lado oposto à manivela que vai rodando. Aposta ganha. Depois, lá se denuncia — aponta para o pequeno espelho retrovisor de uma mota pendurado no teto. “Vejo tudo ali”. E sorri. Mais uma vez.