A história de Joaquim Arnaud dava um livro cheio, mas como diz a vetusta expressão popular “ainda a procissão vai no adro”. Desde a vinha e do vinho, ao presunto de vaca e de porco alentejano, passando pelos enchidos do dito suíno, muito há-de ficar por contar sobre este homem que, aos 18 anos, decidiu – como se dizia antigamente – largar os estudos e dedicar-se à lavoura numa das propriedades da família.
Largo da Igreja 5
7490-421 Pavia
Como chegar
+351 932 200 010
ja@joaquimarnaud.pt
www.arundel-terranagro.blogspot.com
Facebook / @JoaquimArnaudBrands
Apresentado por
João Rodrigues, Feitoria
Texto de Patrícia Serrado
Fotografias de Fabrice Demoulin
Comecemos pelas estórias, até porque é da História que provém o apelido Arnao. Guilherme Arnao, para ser mais precisa, descendente dos Condes de Arundel, veio de Inglaterra para o Portugal de então com a incumbência de acompanhar D. Filipa de Lencastre consta, então, na árvore genealógica de Joaquim Arnaud, homem dedicado à terra, com Pavia no epicentro dos seus afazeres. “A minha família está em Pavia há mais de 500 anos!” As propriedades situadas nos concelhos de Mora e de Arraiolos, no distrito de Évora permanecem, até hoje, nas mãos da família e perfazem o total de 850 hectares. “Sempre fomos agricultores”, diz com apreço. Prova disso é o facto de, em 1991, com 18 anos ter decidido trocar os livros pela agricultura. Logo a seguir explica que o nome Joaquim Arnaud existe desde 1882, legado esse que preserva com estima.
Voltemos ao campo, onde a terra merece respeito ou não fosse Joaquim Arnaud um fervoroso convicto dos benefícios da agricultura biológica, porque “a terra não nos pertence, pertence aos nossos filhos”, explica. O conhecimento, esse, foi adquirido através dos livros dos seus antepassados que, desde 1880, registavam tudo acercadas sementeiros, entre outros assuntos inerente à lavoura. “Comecei a ler tudo o que se fazia e fiz tal e qual! Tive de aprender muito por mim próprio. Sou autodidacta.”
Nas suas propriedades, o nosso anfitrião plantou vinha, em 2001. Aragonês, Trincadeira, Syrah e a casta-rainha, a Alicante Bouschet, foram as variedades de uva tinta escolhidas. Estas são utilizadas nos vinhos Arundel. Contabilize-se, ainda, as castas brancas Arinto e Chardonnay a usar, futuramente, e vinhos com o mesmo rótulo. A vinha própria totaliza sete hectares. Da uva em outro cinco hectares de vinha centenária situada em Pavia, onde variedades de uva tinta e branca da colheita de 2019, irá resultado outro vinho.
As experiências vínicas não ficam por aqui. Joaquim Arnaud fala acerca do próximo espumante. Este está incluído nos“lotes feitos em casa alheia”. Depois de Lisboa e da Bairrada, o próximo sairá de uma adega de Monção feito a partir de Alvarinho e Trajadura, duas castas autóctones da Região Demarcada dos Vinhos Verdes. “Vai ser um Espumante Super Reserva Bruto Natur de 2015, uma edição especial de 1900 garrafas numeradas e que sairá, em breve, para o mercado.”E porquê Monção? “Porque a adega fica a 500 metros da ponte onde foi celebrado o contrato de casamento entre D. João I e D. Filipa de Lencastre.” A história será abordada no rótulo.
Sobre a Joaquim Arnaud Lisboa, “vinhos feitos com uva comprada, mas vinificada por mim” sairão, este Verão, dois tintos e um branco da colheita de 2015, e o Moscatel de Setúbal continua, também, a fazer parte do seu portefólio vínico. “E, muito em breve vou ter um vinagre de 2003!”
Imparável, Joaquim Arnaud tem, ainda, a adir a criação de porco alentejano e de vacas da raça Barrosã, Alentejana e cruzada de alentejana ao seu dia-a-dia, para seguir a tradição familiar. Ambos estão nas suas propriedades dos dois concelhos acima referidos. Quando passou a dedicar-se a este ofício, começou com os enchidos de porco. O chouriço e o salsichão são curados em Guijuelo, município localizado na província de Salamanca, na vizinha Espanha, onde esse processo tradicional remonta ao século XIX. Já a cura do presunto de porco alentejano é feita de acordo com a quantidade de sal que Joaquim Arnaud verifica que seja necessária, sendo a zona climática o requisito preponderante no que à escolha diz respeito. Quanto à carne de vaca – em relação à qual tem novos planos para o futuro –, Joaquim Arnaud revela que, no início, “tinha de fazer qualquer coisa diferente”. Foi quando “descobri em Espanha faziam conservação em sal, ou seja, onde as peças de vaca são curadas em frio”, mais concretamente em Leão, onde este produto é uma tradição e que é comercializado, desde 2012, do lado de cá da fronteira. E, uma vez mais, se constata que o clima é crucial para a cura da peça de carne.