As cores quentes e os aromas doces de mais de seis centenas de variedades de hortofrutícolas fazem da propriedade de Ann Kenny e Jean-Paul Brigand o Lugar do Olhar Feliz.
Cercal do Alentejo
Apresentado por
João Rodrigues, Feitoria
Texto de Patrícia Serrado
Fotografias de Fabrice Demoulin
As cores quentes e os aromas doces de mais de seis centenas de variedades de hortofrutícolas fazem da propriedade de Ann Kenny e Jean-Paul Brigand o Lugar do Olhar Feliz. Um verdadeiro paraíso à face da Terra para muitos cozinheiros e admiradores destas dádivas da natureza partilhadas pelo casal que, em 2001, elegeram o Alentejo para desfrutar de um dos maiores prazeres da vida: partilhar conhecimento.
Hirado butan, curcuma de Java, kumquat, laranja de mié, lima kaffir, mão-de-buda, sudachi, yuzu. Estas e outras palavras igualmente exóticas atribuídas a frutas e demais produtos hortícolas fazem parte do léxico diário deste casal há muito conhecido, também, pela forma amistosa como recebem neste Lugar do Olhar Feliz localizado nos arredores de Cercal do Alentejo, Santiago do Cacém, no concelho de Setúbal. Quando, no início do século XXI, chegaram à maior região de Portugal, trouxeram o sonho de criar um jardim cultivado à imagem de muitos outros que fizeram parte do roteiro de viagens traçado, por ambos, mundo afora.
Volvidas quase duas décadas, a propriedade de 33 quatro hectares reúne um impressionante património hortofrutícola. Além das célebres variedades de citrinos – a maioria proveniente do Japão – que ultrapassa as 350, há romãs para todos os gostos ou as variedades deste fruto não passasse as 120. Some-se mais de meia centena de variedades de amoras – como a amora alba – e as cerca de quatro dezenas de espécies de dióspiros, figos – de figueiras da Síria, do Afeganistão ou da Jordânia –, ameixoeiras, além de vegetais asiáticos, entre outros para, feitas as contas, perfazer um total de mais de 600 variedades de hortofrutícolas. Um portento para jovens agricultores que apreciam esta mescla de experiências numa terra onde imperam as condições para aclimatar árvores de fruto e produtos hortícolas, saber que Jean-Paul Brigand e Ann Kenny tanto gostam de partilhar. “O mais importante para nós não é produzir, mas aclimatar as plantas e encontrar jovens agricultores para plantá-las”, adianta Ann Kenny. A mesma felicidade é repartida com os chefs de e com restaurantes em Portugal – a acrescentar aos outros países, como Espanha, França ou Reino Unido – que, todos os dias, procuram matéria-prima diferente e diferenciadora, e colhida com a delicadeza maior como a que denota cada gesto dos anfitriões desta casa ou não fosse comum ver-se os citrinos envolvidos numa protecção própria contra os insectos e os pássaros, e Jean-Paul Brigand mostrar, sem formalidades, o interior do fruto do seu trabalho. Por isso, o melhor é ir, para ouvir toda a história e descobrir, com os próprios olhos, a felicidade deste lugar.