Filho e neto de pescadores, Jacinto Silva não teve propriamente escolha de profissão. “Quando acabei a escola, fui para o mar”, conta, sem grande emoção, como se estivesse apenas a relatar o facto de o sol ter nascido naquele dia.
Madeira
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Apresentado por
Teresa Vivas, Mesa cultura Gastronómica
Texto de Tiago Pais
Fotografias de Tiago Pais
Filho e neto de pescadores, Jacinto Silva não teve propriamente escolha de profissão. “Quando acabei a escola, fui para o mar”, conta, sem grande emoção, como se estivesse apenas a relatar o facto de o sol ter nascido naquele dia. Algo inevitável, portanto.
Era assim no Caniçal, a ponta Este da ilha da Madeira, de onde é natural, e de onde continuam a partir, ainda hoje, a grande maioria dos atuneiros madeirenses ou registados no arquipélago. São embarcações que, como o nome indica, se dedicam à pesca do atum, o mais nobre dos peixes que se apanham na costa madeirense.
A época dura geralmente entre abril e outubro e tem de ser aproveitada ao limite. Daí que Jacinto Silva invista bastante na manutenção e melhoramento do seu barco, que dá pelo nome de Autonomia. “Só este ano foram 120 mil euros. Porque isto é como um carro de rally, quando chega a hora tem de estar a 100%.”
Os atuneiros ficam cinco a seis dias consecutivos no mar, voltam a terra para descarregar o material, e partem novamente. "Os homens chegam, tomam um banho quente em casa e voltam a partir", explica. Os maiores animais não chegam, sequer, a ir à lota: "Já está encomendado, temos contratos com o preço previamente definido."
A pesca do atum, na Madeira, continua a recorrer a uma técnica antiga, completamente artesanal e mais amiga do ambiente, por ser completamente seletiva. Chamam-lhe salto e vara. “Fazemos um engodo para atrair o peixe, ele vem à superfície e depois fazemo-lo saltar com a vara.” A explicação parece simples, mas imagine-se isto em pleno alto mar, com atuns que chegam a pesar várias dezenas de quilos, quando não mais. Não é para todos.
E também não é para o Mestre Jacinto, que ele já não vai ao mar faz tempo. Além de ser armador, e respeitado, tornou-se, entretanto, presidente da Coopescamadeira — Cooperativa de Pescadores do Arquipélago da Madeira. A sua grande luta agora é por dar melhores condições de trabalho aos homens do mar. E acabar com algumas regras europeias que, no seu entender, não fazem grande sentido, como a de proibir a pesca do peixe-gata, que é uma pesca acessória do peixe-espada e que trazia algum rendimento extra aos pescadores. "O peixe pesca-se na mesma, é inevitável por ser um peixe de profundidade, vem no palangre, mas como existe quota zero temos de o deitar ao mar já morto."