Inserida no Geoparque Estrela, a Quinta da Coitena dedica-se à produção agrícola e pecuária desde 2018, depois dos incêndios do ano anterior terem obrigado a família Brito a repensar o futuro. A criação de perus segue princípios regenerativos e holísticos, apostando na diversificação de culturas, desde olival a hortícolas, apostando na profilaxia e maneio dos animais para evitar o uso de desparasitantes e antibióticos.
Bobadela
Oliveira do Hospital
Como chegar+351 919 835 017 (Carlos Brito)
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Pontos de Venda
Carne:
Talho das Manas (Torres Vedras)
El Corte Ingles (Lisboa e Porto)
Freixo do Meio
Frutas e Legumes:
Alecrim aos Molhos (Lisboa)
Castiça (Seixal)
Bioescolha (Coimbra)
Texto de Inês Matos Andrade
Quando era miúdo, Luís Brito sonhava ser o maior caprinocultor de Portugal. Cresceu habituado ao campo, na Quinta da Coitena, em Oliveira do Hospital, uma casa de férias da família da mãe, Margarida, onde durante anos o pai, Carlos, e os irmãos, praticavam uma agricultura simples, para consumo próprio.
Integrada no Geoparque Estrela, um património da UNESCO, a família Brito mudou o rumo desta quinta secular após os incêndios de outubro de 2017. “Estávamos em Lisboa quando nos ligaram a dizer que tinha ardido tudo. Pensámos que tínhamos perdido a quinta”, conta Carlos Brito, relembrando esse dia fatídico. Desde então, a família repensou toda a atividade, e decidiu dedicar-se à vertente agrícola e pecuária como uma forma de resiliência, contornando os obstáculos da interioridade e das alterações climáticas. “Tornei-me agricultor a tempo inteiro”, ri Carlos.
Carlos e o filho Luís são os grandes responsáveis por aplicar um maneio regenerativo e holístico na Coitena. A estudar Veterinária em Lisboa, o filho Luís, com 21 anos, viaja todos os fins de semana até Oliveira do Hospital para cuidar da quinta. O entusiasmo com que fala do projeto é palpável: “sempre gostei de animais. E não existe produção vegetal sem eles”, explica, enquanto afaga os cornos do Trovão, um dos bodes da quinta.
O biomimetismo é o seu mantra. Uma visão que aplica as lições da natureza: “se virmos o exemplo das savanas, os animais estão sempre em movimento, seja por causa das chuvas ou para fugir de predadores”, explica Luís, sobre a forma como lidam com criação dos perus. As aves nascem em Portugal e chegam à quinta com menos de 24 horas de vida. Mesmo nas primeiras seis semanas de vida – em que os galináceos ainda não controlam a temperatura corporal –, fazem maneio, através do movimento de um pavilhão móvel. Com a recria terminada, os perus vivem ao ar livre com total acesso à propriedade. “Não ter as aves sempre no mesmo sítio, com comida e dejetos no mesmo local, permite-nos abdicar de desparasitantes e antibióticos”, refere, “desta forma podemos apostar na profilaxia. Os nossos animais têm um sistema imunológico fortalecido”.
O termo “holístico” comprime bem o método usado pela família Brito. “Os animais transformam a biomassa em produto de valor acrescentado. Na realidade, o nosso negócio é o solo. Temos hortícolas, árvores de fruto, olival, floresta, perus, caprinos, bovinos”. Os animais são alimentados com a fruta feia não vendável. “A erva transforma-se em carne e em leite, os excrementos fertilizam os solos. Tudo faz parte de um ciclo perfeito, desde os diferentes minerais presentes nos dejetos dos animais, às larvas e moscas.”
Além da avicultura, a Quinta da Coitena possui atualmente 30 cabras e 10 bovinos, para diversificar a produção e fomentar a biodiversidade. Dentro da casa, onde ainda é possível encontrar presença de antigas judiarias, há ovos de perua em cestos de vimes e prateleiras recheadas de compotas de laranja e conservas de limão. No frigorífico, o iogurte de cabra é dividido por diferentes frascos para consumo próprio.
Para comercialização, a Quinta da Coitena disponibiliza a carne de peru através do Talho das Manas, do Freixo do Meio, algumas lojas de produtos biológicos e no El Corte Inglês. As frutas e legumes podem ser encontradas na loja Alecrim aos Molhos, em Lisboa, na Castiça, no Seixal e na Bioescolha, em Coimbra.