Quinta d'Arminho

Azeite Fruta Galinhas Hortícolas Ovos

A necessidade de passar mais tempo em contacto com a natureza pesou na decisão de Raquel Silva e João Rodrigues comprarem uma propriedade no Centro do país. Chama-se Quinta d’Arminho, onde ambos implementaram um projecto de agricultura familiar, centrado no respeito baseado em três premissas: solo, sazonalidade e biodiversidade.

Rua da Tapada, 49
3530-106 Canedo do Mato, Mangualde
Como chegar
+351 963 037 395

quintadarminho@gmail.com
www.quintadarminho.pt

Facebook/ @quintadarminho
Instagram/ @quintadarminho

Apresentado por
Vânia Rodrigues


Texto de Patrícia Serrado

O Porto não enchia as medidas de Raquel Silva e João Rodrigues, designers de formação e profissão, e fundadores do Atelier Arminho. “Queríamos estar mais perto da natureza.” A decisão determinou a procura e o consequente encontro, em 2016, do local certo – uma quinta, de dez hectares, localizada em Canedo do Mato, no concelho de Mangualde e distrito de Viseu, na Beira Alta. 

“A mudança, feita de uma forma muito natural, acabou por corresponder às nossas necessidades”, continua a nossa anfitriã, e o processo de adaptação foi fácil – Raquel Silva é natural de Viseu e João Rodrigues também já conhecia a região. E o Atelier Arminho foi com eles.

A Quinta d’Arminho estava parcialmente abandonada e os dois tiveram de começar do zero, “o que tem sido um trabalho muito intenso, para criar as condições indispensáveis”, reforça. Raquel Silva dá como exemplo o facto de terem optado por energia solar a cem por cento. “Vivemos numa caravana, que foi transformada”, enquanto a casa de pedra, outrora habitada pelos caseiros que tomavam conta da propriedade – segundo consta entre a população local –, serve de estrutura de apoio à Quinta d’Arminho e também para armazenar os produtos que o casal vai colhendo ao longo do ano. 

“Somos só nós os dois a fazer todas as tarefas da quinta”, daí a designação de agricultura familiar. A esta, ambos adicionaram as designações de regenerativa e educativa. “Quando fizemos a produção, percebemos que não queríamos fazer uma agricultura convencional, ou seja, não queremos tirar mais da terra, do que conseguimos cultivar”, esclarece Raquel Silva. “A agricultura regenerativa tem como base melhorar as condições do ecossistema da quinta, isto é, regenerar o ecossistema.” 

O trabalho é executado em pequena escala e, posteriormente, partilhado com outros agricultores, que querem replicar o que o casal está a fazer, através de redes sociais. “São pessoas que querem, sentem a necessidade de ter uma abordagem diferente da própria vida, de bem-estar.”

No alinhamento desta acção, Raquel Silva frisa o sucesso que têm vindo a ter com os porcos Kune Kune, raça originária da Nova Zelândia, mas que foram buscar a França. Segundo a nossa anfitriã, são porcos com o perfil indicado para pôr em prática um tratamento mais holístico do solo, na área ocupada por carvalhos e castanheiros bravos. 

“Os porcos andam à solta, para fertilizar esta zona”, além de que, nas pastagens, “não fazem grande mobilização do solo, o que favorece a manutenção da paisagem, sem termos de recorrer a energias fósseis”, realça Raquel Silva. “Neste momento temos cinco adultos, além de duas reprodutoras.” Os leitões são vendidos. “Há pessoas que também têm ficado com estes porcos”, afirma Raquel Silva, no âmbito do trabalho em rede que realizado com outros agricultores. “Também temos três porcas anãs. Duas delas fazem parte do primeiro grupo, que integrámos na quinta” e todas andam livremente no espaço que lhes foi atribuído.

Quer uns, quer outros, estão integrados num sistema de pastoreio móvel. Tal como as galinhas, que têm um galinheiro móvel à disposição. Serve de abrigo nocturno e de ninho, para porem os ovos. “Este ano, fiz o sector das hortícolas e aqui prolongamos a estadia”, exemplifica Raquel Silva.

A somar às duas raças suínas e às galinhas, o jovem casal produz azeite. Este é feito a partir do sumo das azeitonas colhidas do olival antigo, na Quinta d’Arminho, porque o novo foi plantado em 2020. “Estamos numa zona de produção familiar de azeite, onde todas as pessoas do universo rural têm o seu azeite. Nós usamos o lagar da Cooperativa de Olivicultores de Nelas, onde fazem prensagem a frio, processo que mantém as características do azeite e porque é possível fazer pequenas quantidades deste produto.”

A vinha era a única parte da propriedade que estava tratada. Nela estão plantados, desde 2019, os mirtilos. “É o nosso grande cultivo. Ocupa um hectare e meio.” Este ano, de 2022, “vamos entrar em produção a sério. Se tudo correr bem, vamos colher na ordem das toneladas.”

A produção de fruta e hortícolas é, por sua vez, considerável. “Há uma variedade muito grande. Este Inverno, temos couves romanesco, couves de Bruxelas, brócolos, verduras asiáticas” e todas fazem parte dos cabazes geridos pelo casal, no âmbito do Programa CSA – Comunidade que Suporta a Agricultura. “Funciona como método de subscrição semanal, tem oito membros e é composto pelo que está disponível no próprio dia”, explica. Nesta lista, cabem ovos, legumes, ervas aromáticas e os complementos. “São azeitonas, frutos secos, compotas, marmeladas, infusões, para tornar os cabazes mais atractivos.” Os frutos secos são das aveleiras, das nogueiras e dos castanheiros da Quinta d’Arminho, mas as laranja são do vizinho. “Queremos construir uma comunidade, integrando produtores locais” e até “já divulgámos um projecto de saboaria natural daqui”.

Em relação às visitas, Raquel Silva anuncia que o primeiro encontro, realizado no contexto do “Dia Aberto na Quinta”, teve lugar em Novembro de 2021 e “foi apenas para os membros dos cabazes”. O próximo estará para breve. “Será implementado uma vez por mês ou por estação. Queríamos que as pessoas soubessem exactamente de onde vêm aqueles alimentos.”

Quanto à venda da matéria-prima produzida na Quinta d’Arminho, esta é “cem por cento focada nos nossos membros, que são famílias de Viseu e de Penalva do Castelo”. Os cabazes são entregues ao domicílio e já têm lista de espera. “O objectivo deste ano é chegar aos 20 membros”, remata Raquel Silva.