Quando entramos nos portões deste terreno, atualmente propriedade do Governo Regional, este ex-professor de Filosofia, primeiro presidente da Junta de Freguesia local, está debruçado sobre alguns inhames que tirou momentos antes da terra.
Quinta Leonor
Caminho dos Murinhos, Luzirão
9325-156 Jardim da Serra
Como chegar
+351 969 862 258 (Prof. Manuel Neto)
+351 926 651 058 (Marco Neto)
Apresentado por
Teresa Vivas, Mesa Cultura Gastronómica
Texto de Tiago Pais
Fotografias de Tiago Pais
Antes de mais, uma ressalva: os produtos que saem da terra da Quinta Leonor não são vendidos ao público mas sim entregues à Escola do 1º Ciclo do Jardim da Serra, à Conferência de São Vicente de Paulo, e a outras instituições de solidariedade social do concelho e de fora dele. Porque mais do que um produtor, Manuel Neto é uma espécie de guardião, ou conservador, de alguns produtos que outrora se encontravam abundantemente nas hortas da ilha mas que cada vez mais estão a ser votados ao abandono. E, por isso, a Quinta não tem um propósito comercial. Ainda assim, é possível, ao cidadão comum, provar algumas destas relíquias. Já lá vamos.
Quando entramos nos portões deste terreno, atualmente propriedade do Governo Regional, este ex-professor de Filosofia, primeiro presidente da Junta de Freguesia local, está debruçado sobre alguns inhames que tirou momentos antes da terra. Enquanto os golpeia, vai explicando como “cada pé de inhame dura muitos anos, retira-se a parte comestível e volta-se a plantar.” As chamadas canhotas, a origem da nova planta, usavam-se na tradicional sopa de trigo, tornando-a mais substancial. “A minha avó dizia que era comida de arrancar castanheiros”, sorri.
Manuel mostra-nos cinco variedades de inhames. O roxo, o amarelo, o pata de elefante e dois mais curiosos. O “feio e bom” e o Silvestre. Com letra maiúscula porque não é selvagem, mas sim pertença de um indivíduo com esse apelido. A atividade da Quinta não se restringe, porém, ao tubérculo. Ali faz-se, também, uma inventariação de árvores de fruto regionais: macieira, pereiras e cerejeiras. Palavra ao professor: “Isto aqui [Jardim da Serra] era a terra da cereja. Era uma coisa que se plantava e não era preciso fazer nada.” Mas os tempos agora são outros: as alterações climáticas têm feito secar as cerejeiras, tornando-as mais suscetíveis aos fungos.
As macieiras é que não se ressentem: o responsável mostra-nos, orgulhoso, fotos da última colheita. Naquele pequeno pedaço de terreno, têm 30 variedades plantadas, como a Camoesa, a Focinho de Rato ou o Pêro Domingos. E é já na companhia do filho Marco, que gere a pequena quinta biológica familiar, seguindo os princípios da agricultura sintrópica — e aqui sim, é possível comprar os produtos — que nos serve uma sidra deliciosa feita precisamente, com essa maçã, que rouba o nome ao seu bisavô, o homem que lhe deu fama na Madeira. Está tudo em família.